Páginas: 376
Publicação: 2015
Fabian é
filho de pais divorciados e nasceu num lar de classe média. Desde pequeno teve
uma personalidade forte, seu instinto de líder era natural, consequentemente
com um dom de liderança e manipulação. Ele foi uma criança prematura em tudo, por
exemplo, teve sua primeira experiência sexual aos 8 anos, bebeu e fumou pela
primeira vez com 13 anos. O contato com a maconha foi com 16, por influência de
más amizades. Ele viveu tanto com a mãe quanto com o pai (com o pai foi um
ano). Sua mãe era ausente, ela e o padrasto eram umbandistas e várias vezes ele
viu sua mãe receber entidades e ela o levava para fazer despacho. Com seu pai
as coisas eram mais tranquilas. Seu pai era mais participativo e sua madrasta
sempre o tratava bem.
O contato com
a maconha ocasionou gradativamente o contato com outras drogas como cocaína e o
crack. Sua vida com boas condições financeiras foi se esvaindo ao ponto de ir
morar na rua, ficar um ano sem tomar banho e sem escovar dentes. Foi internado
vinte e cinco vezes, até que na última foi a sua salvação de sair do abismo em
que estava. Sua fissura pelo crack o afastou de sua família e de tudo que
conquistou. Ele chegou a morar nos Estados Unidos, fez o curso e tirou o
documento para pilotar avião, mas não seguiu carreira.
Em nenhum
momento na sua adolescência seus pais sentaram para conversar sobre drogas e
seus efeitos. Fabian sempre teve tudo que quis, mas isso não o impediu de conhecer
um outro mundo de azaração, drogas e sexo.
Por isso assumo: o negócio era a luta contra mim mesmo. Eu era o meu maior inimigo. Por mais que tentasse, era um adversário contra o qual eu não podia... Nesse sentido, todos os drogados são iguais: a gente vai se envolvendo sem entender no que está se metendo. Pág. 268
Analisando
tudo na vida de Fabian era nítido um vazio em seu coração. Ele teve tudo de
bandeja, mas algo faltava e nem ele mesmo soube identificar o que era. O crack
o abraçou e fez com que se afundasse mais e mais. Sem nenhuma chance de
rendição ou de um novo começo, foram preciso vinte e cinco internações em
centros de reabilitação para desperta-lo e mostrar o quão fundo ele chegou. De
acordo com suas contas ele fumou doze quilos de maconha, dez quilos de cocaína,
vinte mil pedras de crack, duzentos e cinquenta LSDs e muitos litros de
lança-perfume.
A escrita do
livro é detalhada e há diálogos, o que ajuda na compreensão e na construção mental
dos fatos que são narrados. Fatos pesados e de grande reflexão. Há fotos de Fabian
de vários momentos de sua vida e família.
Dependente químico se posiciona de forma a não aceitar as pessoas, quer mudá-las, se revolta com coisas sem sentido. E faz o que for necessário pra atingir seus objetivos. Manipulador, não consegue fazer nada num nível normal: é oito ou oitenta, tudo ou nada. Compulsivo, faz mil coisas ao mesmo tempo, mas tudo pela metade. Nunca termina nada do que começa. Pág. 324
Fabian é uma
parte do reflexo da nossa sociedade. Há outros Fabians que estão na mesma
situação nos dias atuais. Pessoas que não necessariamente precisou nascer na
periferia para entrar nesse mundo sombrio, pessoas com um berço privilegiado,
que decidiu se aventurar no mundo das drogas. Tantos homens, mulheres e
crianças sem forças e somente pensam 24 horas por droga e como vai conseguir
dinheiro para comprar.
Um livro
muito bem escrito, instigante e cada capítulo nos faz refletir em nossa própria
vida e nas pessoas ao redor. Acho que todos nós conhecemos alguém que já entrou
nesse mundo tão perigoso, algumas histórias acabaram mal e outras bem. A de
Fabian acabou bem, ele hoje criou uma clínica de reabilitação de dependentes
químicos, faz palestras e seminários e já foi no programa da Fátima Bernardes
para falar sobre o assunto. Como título de curiosidade, o jornalista que
escreveu a história de Fabian, Jorge Tarquini também é autor do livro “O doce
veneno do escorpião”, da ex garota de programa Bruna Surfistinha.
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